quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Neurologia



Como especialidade independente, a neurologia é relativamente recente, pois até meados do século XIX estava vinculada à medicina interna. Sua evolução no sentido da individualização é devida principalmente às pesquisas de médicos e cientistas como Charcot, Golgi, Ramón y Cajal e Charles Scott Sherrington.
Neurologia é a especialidade médica que estuda as doenças do sistema nervoso central, periférico e autônomo. Não existem, contudo, limites nítidos entre a neurologia e algumas outras especialidades, pois o organismo funciona como um todo integrado, em que alterações de um determinado sistema podem afetar outro. Assim, ao lado de afecções puramente neurológicas, existem outras em que o comprometimento do sistema nervoso é secundário ao de estruturas não neurológicas.
História. As doenças nervosas, estudadas desde os tempos de Hipócrates, só foram descritas com rigor nas últimas décadas do século XIX. Duas escolas se destacaram nos primórdios da especialidade: a francesa, de Jean-Martin Charcot, titular da primeira cátedra de doenças nervosas criada na Sorbonne, em Paris, em 1882. Alinharam-se com os conceitos dessa escola Jules Déjerine, estudioso de diversas síndromes neurológicas, e os irmãos Pierre-Marie e Joseph Babinski, que deram importantes contribuições ao estudo das doenças do cérebro e da medula espinhal. A outra grande escola neurológica, cuja influência perduraria por décadas, foi a britânica. Se a francesa caracterizou-se pelo caráter revolucionário de sua orientação, a escola britânica teve como traço principal a extrema minúcia de seus estudos. Alguns dos ilustres neurologistas que dela fizeram parte foram Sherrington, Charles Bell, John Hughlings Jackson e Henry Head.
Mais tarde, a neurologia diferenciou-se em outras disciplinas subordinadas, a partir do trabalho de pesquisadores como Golgi, Ramón y Cajal, Walter Edward Dandy (inventor da ventriculografia e do pneumoencefalograma) e Antonio Egas Moniz, precursor da radiografia de vasos sangüíneos, ou angiografia.
Do progresso da pesquisa científica no domínio da neurologia resultou sua divisão em três subespecialidades: (1) a neuropediatria, à qual, dadas as características especiais do desenvolvimento nervoso infantil, corresponde uma parte muito delicada da medicina, a do estudo da formação e das primeiras fases do desenvolvimento neuronal; (2) a neurologia clínica propriamente dita, que se ocupa da anatomia, da fisiologia e da patologia do sistema nervoso; e (3) a neurocirurgia, conjunto de técnicas cirúrgicas destinadas à reparação de lesões do sistema nervoso, e que, em determinados aspectos, quando útil para o tratamento de alterações mentais, se vincula à neuropsiquiatria.
Doenças e lesões neurológicas. Entre as doenças neurológicas, o grupo de maior incidência quanto à mortalidade é o dos acidentes vasculares cerebrais (AVC), causados pela irrigação sangüínea anormal do cérebro. Os AVCs agrupam uma série de processos de mau prognóstico, produzidos por interrupção do fluxo sangüíneo ao encéfalo. Entre eles figuram a trombose (formação de um coágulo sangüíneo no interior de um dos vasos que irrigam o cérebro, com mortalidade de vinte por cento dos pacientes, aproximadamente); a embolia (brusca obstrução de um vaso por ação de um corpo estranho na corrente); e a hemorragia cerebral (derrame sangüíneo no cérebro), quase sempre em conseqüência de arteriosclerose e hipertensão arterial. Têm menor incidência os acidentes vasculares cerebrais decorrentes de encefalopatia hipertensiva, e a hemorragia subaracnóide, resultante de ruptura de um aneurisma (dilatação, em forma de saco, de um vaso).
Doenças desmielinizantes. A destruição eletiva e aparentemente primária das bainhas de mielina dos neurônios, com relativa preservação do axônio e da célula nervosa, caracteriza as doenças desmielinizantes. Entre elas incluem-se a esclerose múltipla, a neuromielite óptica, as encefalites e as mielites resultantes de complicações pós-infecciosas e as complicações nervosas das vacinações.
Mal de Parkinson. A síndrome parkinsoniana, ou paralisia agitante, é uma doença caracterizada por tremores, rigidez muscular e diminuição da atividade motora espontânea. O quadro clínico, descrito pelo médico britânico James Parkinson em 1817, costuma aparecer de maneira progressiva. A maioria das pessoas afetadas começa a manifestar os sintomas entre os cinqüenta e os setenta anos.
Síndromes coréicas. As diferentes manifestações da coréia (doença nervosa caracterizada por movimentos irregulares e involuntários) têm como traço comum as contrações musculares relacionadas com estados depressivos, perturbações mentais e irritabilidade anormal. Dentre os estados patológicos mais característicos desse grupo figuram a coréia de Sydenham, popularmente conhecida por dança-de-são-vito ou de são-guido; a coréia de Huntington, que acomete indivíduos de idade avançada e é de evolução degenerativa; e a coréia crônica, também mais freqüente em anciãos, que tem como sintomas específicos, transtornos de linguagem e estados de demência.
Micoses do sistema nervoso. São numerosas as espécies de fungos que, tal como ocorre em outros órgãos, atuam também como parasitos do sistema nervoso central. Entre as mais freqüentes afecções desse tipo figuram a candidíase, produzida pela Candida albicans; a criptococose, ou blastomicose européia, cujo agente desencadeador é o fungo Cryptococcus neoformans, e que causa a hipertensão intracraniana; e a paracoccidioidomicose, ou blastomicose sul-americana.
Neurocisticercose. Doença resultante da infestação, ou invasão do sistema nervoso por um parasito macroscópico -- o cisticerco (forma larvária da tênia, Taenia solium) --, a neurocisticercose se define por um conjunto de manifestações psíquicas, de acordo com o número de parasitos presentes, de sua localização, tipo, tamanho etc. As formas clínicas mais comuns são hipertensivas, convulsivas, com manifestações neurológicas permanentes (focais ou difusas) e psíquicas.
Neuroinfecções. Quando bactérias ou vírus que penetraram no organismo alcançam o sistema nervoso, ocorrem quadros clínicos geralmente graves, que devem ser tratados com doses maciças de antibióticos. Nesse grupo de doenças estão a neurotuberculose -- causada por ação do bacilo de Koch, Mycobacterium tuberculosis, em tecidos nervosos, e que afeta predominantemente crianças de até três anos -- e a neurossífilis, provocada pela bactéria Treponema pallidum, agente da sífilis. Têm também origem infecciosa numerosas doenças neurológicas, tais como as encefalites e as encefalomielites, geralmente de natureza virótica.
Cefaléias, traumatismos e tumores. A cefaléia, ou dor de cabeça, é sintoma comum de diversas lesões e doenças que afetam predominantemente os seios venosos, a artéria meníngea média e as outras grandes artérias cerebrais, parte da dura-máter, assim como o polígono de Willis, círculo arterial da base do cérebro. O crânio, o parênquima cerebral, grande parte da dura-máter e as leptomeninges, entre outras estruturas, são insensíveis à dor. Entre as principais causas da dor de cabeça estão a tensão provocada por um esforço dos músculos faciais, do pescoço ou do couro cabeludo, e a dilatação dos vasos sangüíneos locais, que resulta no aumento da tensão de suas paredes.
Os traumatismos cranioencefálicos ou os raquimedulares, segundo afetem a cavidade craniana ou a medula espinhal, são conseqüência de acidentes e lesões por agentes de natureza diversa. Os primeiros serão diretos (se forem devidos a um impacto perpendicular ou oblíquo sobre o crânio), ou indiretos (decorrentes de ação compressiva sobre a caixa craniana, que produz fraturas irradiadas). Também os raquimedulares podem ser de dois tipos: abertos, quando há abertura do revestimento cutâneo (caso dos ferimentos causados por arma branca ou arma de fogo) e fechados (quando a lesão medular é interna).
Como ocorre no caso dos traumatismos, a neurocirurgia é a forma habitual de tratamento de outro dos grandes grupos de doenças neurológicas, o dos tumores cerebrais. Quando não é possível retirar o tecido tumoral, emprega-se a radioterapia. A sintomatologia mais freqüente dos vários tipos de tumores cerebrais (neuroepiteliais, mesodérmicos, ectodérmicos, por malformações e metástases) inclui crises convulsivas focais e generalizadas, afasia, transtornos cerebelares e paralisias de nervos cranianos. Podem surgir outros sintomas específicos, de acordo com a localização do tumor.
Alzheimer, mal de; Cérebro; Dor de cabeça;    Encefalite; Epilepsia; Esclerose múltipla;    Meningite; Nervoso, sistema
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