As enfermidades alérgicas não costumam gerar quadros clínicos graves, e por isso não são consideradas processos patológicos importantes. Todavia, comprovou-se estatisticamente que dez por cento da população mundial padece de alergias, e que um terço das afecções cutâneas é de natureza alérgica.
Quando determinados agentes entram em contato com o organismo, este põe em funcionamento seu sistema imunológico, que atua como defesa e gera os chamados anticorpos, que são moléculas produzidas por determinado tipo de componentes do sangue, os linfócitos. Os anticorpos interagem com os elementos invasores, denominados antígenos, para ocasionar as reações antígeno-anticorpo. Em alguns casos, essas reações são prejudiciais ao organismo e constituem o fundamento da alergia.
O termo alergia (do grego alos, alterado, e ergos, atividade) foi cunhado em 1906 pelo médico austríaco Clemens von Pirquet para definir o conjunto de fenômenos respiratórios, eruptivos e de caráter nervoso que se registram quando o organismo se sensibiliza ao entrar em contato com determinadas substâncias. Na alergia o antígeno se chama alérgeno e o anticorpo reagina. Mesmo em quantidade mínima, os alérgenos podem originar uma reação alérgica, por ingestão ou absorção, assim como por comunicação externa. O início do processo se dá em duas fases: na primeira, o organismo recebe uma quantidade de antígeno gerador, que corresponde à dose sensibilizante ou indutora e que não produz qualquer manifestação sensível. Em seguida, uma segunda dose desencadeia a reação.
Tipos de alérgenos. Devido à grande variedade de alérgenos, pode-se classificá-los segundo diversos critérios. Entretanto, a distribuição alergênica mais freqüente é aquela em que se diferenciam as vias de penetração do agente.
Desse modo se reconhecem, entre outros, os chamados pneumo-alérgenos ambientais, que afetam as vias respiratórias e incluem o pó e o pólen, dois dos mais freqüentes desencadeadores de reações alérgicas. Outro grupo é o dos alérgenos alimentares ou medicamentosos que, em geral, costumam causar processos de certa gravidade. De igual modo se distinguem os agentes alergênicos, microbianos ou parasitários, que correspondem aos componentes das membranas celulares de bactérias, fungos, protozoários e helmintos; os de contato, entre os quais os mais comuns são alguns metais (cromo, mercúrio, níquel) e certos plásticos e vernizes; e alguns agentes físicos como a luz ou o calor.
Reações alérgicas. A distinção básica entre os vários tipos de reações alérgicas determina o estabelecimento de dois grupos: o das reações anafiláticas de hipersensibilidade imediata e o das alergias infecciosas ou de hipersensibilidade retardada.
Reações de hipersensibilidade imediata. As reações alérgicas imediatas se dão poucos instantes após a introdução do alérgeno no organismo. Costumam afetar a musculatura lisa e os vasos sangüíneos e provocam manifestações do tipo urticária. Seu efeito pode ser progressivamente reduzido por meio de sucessivas introduções de doses mínimas de alérgeno, num processo denominado dessensibilização. Esses tipos de reação podem manifestar-se mediante diferentes processos.
O choque anafilático é a reação alérgica mais grave; se não for tratado a tempo, conduz à morte. No processo intervém um determinado tipo de células, denominadas mastócitos. Os anticorpos por elas gerados participam de uma reação na qual se liberam várias substâncias: a histamina, que contrai a fibra muscular lisa e provoca asfixia; a serotonina, vasodilatador que gera o aparecimento de calombos e vergões; e a heparina, substância anticoagulante que provoca hemorragias.
O fundamento da alergia cutânea é igual ao do choque anafilático. Induzida através da pele ou por via alimentar, a alergia cutânea se caracteriza pela rápida atenuação dos sintomas, que em geral se limitam ao eritema e à inflamação.
Outro tipo de alergia imediata é constituído pelas manifestações atópicas, que são as corriqueiras rinites e alergias ao pólen. Neste caso, tanto a penetração como o próprio antígeno são naturais, sem mediação de qualquer mecanismo fisiológico. O desencadeador mais freqüente é o pólen de numerosas espécies de gramíneas, e é nessa modalidade que se obtêm melhores resultados na dessensibilização por injeção alergênica progressiva.
Reações de hipersensibilidade retardada. A alergia retardada pode demorar horas e até dias para manifestar-se depois da introdução do alérgeno. À diferença da imediata, que afeta apenas a musculatura lisa e os vasos sangüíneos, pode atingir qualquer tipo de tecido. Seu desenvolvimento não se combate mediante dessensibilização.
As manifestações mais freqüentes nesse grupo de reações são as de alergia infecciosa, originada por antígenos de natureza microbiana ou parasitária. Caracterizam-se pela liberação do chamado fator de inibição de migração de monócitos, substância que impede a mobilidade de certas células sangüíneas, as quais, ao serem detidas, provocam a alteração do tecido em que se encontram até produzir sua necrose.
Outra modalidade relativamente comum é a dermatite de contato, processo alérgico originado por certos cosméticos e detergentes. Nesse caso, os sintomas consistem na vermelhidão da zona afetada, inflamação e, em casos extremos, necrose dos tecidos.
O fundamento da reação alérgica retardada, embora com algumas variações, é o mesmo do processo de rejeição de enxertos, tão importante na evolução dos transplantes de órgãos.
Cabe mencionar, por fim, os processos de alergia medicamentosa, que podem obedecer tanto a mecanismos imediatos quanto a retardados e que, às vezes, chegam a desencadear choques anafiláticos. Dentro desse tipo de manifestação, um caso muito freqüente é o da alergia à penicilina: este fármaco pode unir-se às proteínas do paciente que o ingere, ocasionando uma reação antígeno-anticorpo que provoca a liberação de antígenos alergênicos.
Imunologia
©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
Quando determinados agentes entram em contato com o organismo, este põe em funcionamento seu sistema imunológico, que atua como defesa e gera os chamados anticorpos, que são moléculas produzidas por determinado tipo de componentes do sangue, os linfócitos. Os anticorpos interagem com os elementos invasores, denominados antígenos, para ocasionar as reações antígeno-anticorpo. Em alguns casos, essas reações são prejudiciais ao organismo e constituem o fundamento da alergia.
O termo alergia (do grego alos, alterado, e ergos, atividade) foi cunhado em 1906 pelo médico austríaco Clemens von Pirquet para definir o conjunto de fenômenos respiratórios, eruptivos e de caráter nervoso que se registram quando o organismo se sensibiliza ao entrar em contato com determinadas substâncias. Na alergia o antígeno se chama alérgeno e o anticorpo reagina. Mesmo em quantidade mínima, os alérgenos podem originar uma reação alérgica, por ingestão ou absorção, assim como por comunicação externa. O início do processo se dá em duas fases: na primeira, o organismo recebe uma quantidade de antígeno gerador, que corresponde à dose sensibilizante ou indutora e que não produz qualquer manifestação sensível. Em seguida, uma segunda dose desencadeia a reação.
Tipos de alérgenos. Devido à grande variedade de alérgenos, pode-se classificá-los segundo diversos critérios. Entretanto, a distribuição alergênica mais freqüente é aquela em que se diferenciam as vias de penetração do agente.
Desse modo se reconhecem, entre outros, os chamados pneumo-alérgenos ambientais, que afetam as vias respiratórias e incluem o pó e o pólen, dois dos mais freqüentes desencadeadores de reações alérgicas. Outro grupo é o dos alérgenos alimentares ou medicamentosos que, em geral, costumam causar processos de certa gravidade. De igual modo se distinguem os agentes alergênicos, microbianos ou parasitários, que correspondem aos componentes das membranas celulares de bactérias, fungos, protozoários e helmintos; os de contato, entre os quais os mais comuns são alguns metais (cromo, mercúrio, níquel) e certos plásticos e vernizes; e alguns agentes físicos como a luz ou o calor.
Reações alérgicas. A distinção básica entre os vários tipos de reações alérgicas determina o estabelecimento de dois grupos: o das reações anafiláticas de hipersensibilidade imediata e o das alergias infecciosas ou de hipersensibilidade retardada.
Reações de hipersensibilidade imediata. As reações alérgicas imediatas se dão poucos instantes após a introdução do alérgeno no organismo. Costumam afetar a musculatura lisa e os vasos sangüíneos e provocam manifestações do tipo urticária. Seu efeito pode ser progressivamente reduzido por meio de sucessivas introduções de doses mínimas de alérgeno, num processo denominado dessensibilização. Esses tipos de reação podem manifestar-se mediante diferentes processos.
O choque anafilático é a reação alérgica mais grave; se não for tratado a tempo, conduz à morte. No processo intervém um determinado tipo de células, denominadas mastócitos. Os anticorpos por elas gerados participam de uma reação na qual se liberam várias substâncias: a histamina, que contrai a fibra muscular lisa e provoca asfixia; a serotonina, vasodilatador que gera o aparecimento de calombos e vergões; e a heparina, substância anticoagulante que provoca hemorragias.
O fundamento da alergia cutânea é igual ao do choque anafilático. Induzida através da pele ou por via alimentar, a alergia cutânea se caracteriza pela rápida atenuação dos sintomas, que em geral se limitam ao eritema e à inflamação.
Outro tipo de alergia imediata é constituído pelas manifestações atópicas, que são as corriqueiras rinites e alergias ao pólen. Neste caso, tanto a penetração como o próprio antígeno são naturais, sem mediação de qualquer mecanismo fisiológico. O desencadeador mais freqüente é o pólen de numerosas espécies de gramíneas, e é nessa modalidade que se obtêm melhores resultados na dessensibilização por injeção alergênica progressiva.
Reações de hipersensibilidade retardada. A alergia retardada pode demorar horas e até dias para manifestar-se depois da introdução do alérgeno. À diferença da imediata, que afeta apenas a musculatura lisa e os vasos sangüíneos, pode atingir qualquer tipo de tecido. Seu desenvolvimento não se combate mediante dessensibilização.
As manifestações mais freqüentes nesse grupo de reações são as de alergia infecciosa, originada por antígenos de natureza microbiana ou parasitária. Caracterizam-se pela liberação do chamado fator de inibição de migração de monócitos, substância que impede a mobilidade de certas células sangüíneas, as quais, ao serem detidas, provocam a alteração do tecido em que se encontram até produzir sua necrose.
Outra modalidade relativamente comum é a dermatite de contato, processo alérgico originado por certos cosméticos e detergentes. Nesse caso, os sintomas consistem na vermelhidão da zona afetada, inflamação e, em casos extremos, necrose dos tecidos.
O fundamento da reação alérgica retardada, embora com algumas variações, é o mesmo do processo de rejeição de enxertos, tão importante na evolução dos transplantes de órgãos.
Cabe mencionar, por fim, os processos de alergia medicamentosa, que podem obedecer tanto a mecanismos imediatos quanto a retardados e que, às vezes, chegam a desencadear choques anafiláticos. Dentro desse tipo de manifestação, um caso muito freqüente é o da alergia à penicilina: este fármaco pode unir-se às proteínas do paciente que o ingere, ocasionando uma reação antígeno-anticorpo que provoca a liberação de antígenos alergênicos.
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