Artigo: A superbactéria KPC - Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase
Roberto Ramalho é Jornalista e servidor público estadual da área da saúde
Depois de matar pacientes nos hospitais do Distrito Federal, as bactérias resistentes a antibióticos finalmente receberam atenção do Ministério da Saúde. Agora haverá regras mais rígidas para a venda de antibióticos com a exigência da apresentação de receita médica nas farmácias e drogarias em todo o Brasil. Eles receberão os mesmos cuidados dos psicotrópicos.
A bactéria KPC (Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase) é um organismo multiresistente a antibióticos, e ataca principalmente pessoas que estão com imunidade muito baixa e que estão internadas principalmente nas UTIS dos hospitais.
Segundo a Enciclopédia Wikipédia “as bactérias super-resistentes a antibióticos são um fenômeno recente observado em pacientes que viajaram ao sul da Ásia para fazer cirurgias plásticas e retornaram a seus países. O primeiro estudo foi publicado em 2009, na revista médica The Lancet e se refere ao gene NDM-1, encontrado até o momento nas bactérias Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli, que causam pneumonia e infecção urinária. Esse gene produz resistência até aos antibióticos da classe das carbapenemas e pode levar a uma preocupante pandemia em futuro próximo. E de acordo com os cientistas da Universidade de Madras, as novas bactérias chegaram à Grã-Bretanha trazidas por pacientes que viajaram à Índia ou ao Paquistão para realizar tratamentos cosméticos. Ao acompanhar pacientes com sintomas suspeitos, eles encontraram 44 casos (1,5% dos investigados) em Chennai e 26 (8%) em Haryana, na Índia. Eles também detectaram a superbactéria em Bangladesh e no Paquistão, bem como em 37 casos na Grã-Bretanha. Os únicos antibióticos efetivos foram a tigeciclina e a colistina.
Segundo o infectologista Alexandre Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia do Distrito Federal, quem corre mais risco de infecção são pacientes que estão com sonda, cateter, pulsão venosa ou em outra situação que possa favorecer a infecção bacteriana. E ele faz uma advertência: “Mas para quem visita o paciente, o risco é de ser colonizado pela bactéria, algo muito diferente de ser contaminado. Ou seja, a bactéria pode estar presente nas mãos, nos braços e no trato digestivo do visitante que manteve contato com o paciente, mas ele só correrá o risco de contaminação se sua saúde estiver debilitada e ele estiver com a imunidade baixa”, esclarece.
De acordo com os infectologistas a preocupação com a limpeza dos locais é outra questão importante para evitar que a bactéria KPC se espalhe nas unidades de tratamento intensivo ou nos locais de atendimento do pronto-socorro.
Segundo os infectologistas a prevenção é essencial, já que o tratamento é difícil, por conta de sua alta resistência a antibióticos. Para isso, médicos e enfermeiros devem tomar os mesmos cuidados dos visitantes quanto à higienização das mãos, além de utilizar luvas e máscaras para uma prevenção mais efetiva. O isolamento de pacientes com suspeita de contaminação é outra medida de segurança.
Segundo apurou o Correio Brasiliense a maior dificuldade em tratar pacientes com KPC é a falta de antibióticos disponíveis no mercado. Como a bactéria é bastante resistente, os médicos têm de combinar até três tipos de medicamentos mais fortes e mais caros. A transmissão ocorre principalmente por conta da falta de higienização das mãos e pode ocorrer quando um paciente em estado grave é transferido de um leito a outro, ou até mesmo por enfermeiros e médicos.
Ouvida pelo Correio Brasiliense a médica infectologista Maria de Lourdes Ferreira Lopes, afirma que a regulamentação da ANVISA ajudará no controle de infecções nos ambientes domésticos e hospitalares. “O uso indiscriminado de antibióticos na comunidade e dentro dos hospitais é uma das maiores causas de resistência bacteriana no Brasil. Hoje, a pessoa que tem febre toma antibiótico, se tem um vírus que fica no organismo menos de 48h toma antibiótico, além de usar as sobras de antibióticos guardadas em casa para tratar outras doenças. Tudo isso ajuda as bactérias a ficarem resistentes”, afirmou. A médica explicou como ocorre o processo de fortalecimento dos micro-organismos. “Quando se faz a ingestão de antibióticos indevidamente, as bactérias sensíveis da flora são destruídas e as bactérias mutantes ficam livres para se multiplicarem. Ocorre que quando se toma o antibiótico de novo, não faz efeito nenhum.”
O surto da bactéria KPC no Distrito Federal levou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, a anunciar algumas medidas para controlar a venda indiscriminada de antibióticos no país. Uma delas é que a partir de agora os antibióticos só poderão ser vendidos em farmácias e drogarias com a apresentação de receita médica. E ficará a cargo da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) punir com mais rigor as farmácias que descumprirem a determinação.
O que é a superbactéria e como prevenir novos casos de infecção
* A Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC) é uma bactéria resistente a 95% dos antibióticos existentes no mercado farmacêutico;
* Ela surgiu por conta de mutações genéticas, em que a bactéria desenvolveu resistência aos antibióticos como um mecanismo de sobrevivência;
* A identificação de casos é feito por meio da análise de material do sistema digestivo
* Entre os pacientes que têm a KPC no corpo, a maioria —cerca de 90% deles — não desenvolve infecções;
* Se o paciente estiver com a imunidade baixa, por exemplo, pode desenvolver um processo infeccioso;
* Há casos de infecções mais leves, como as que atingem o sistema urinário, até graves pneumonias, que podem levar à morte;
* Para tratar os pacientes com infecção, há poucos antibióticos disponíveis. O principal deles, que age contra a KPC, é a polimixina;
* Para prevenir novos casos de infecção, médicos, enfermeiros e visitantes dos hospitais devem lavar as mãos e desinfetá-las com álcool 70%;
* Profissionais de saúde devem manter as unhas curtas, evitar comer no ambiente de trabalho, usar os cabelos presos e preferir sapatos fechados.
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