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Durante muito tempo desconhecida do grande público e
relegada a segundo plano por muitos cientistas, a ecologia surgiu no século XX
como um dos mais populares aspectos da biologia. Isto porque tornou-se evidente
que a maioria dos problemas que o homem vem enfrentando, como crescimento
populacional, poluição ambiental, fome e todos os problemas sociológicos e
políticos atuais, são em grande parte ecológicos.
A
palavra ecologia (do grego oikos, "casa") foi cunhada no século XIX
pelo zoólogo alemão Ernst Haeckel, para designar a "relação dos animais
com seu meio ambiente orgânico e inorgânico". A expressão meio ambiente
inclui tanto outros organismos quanto o meio físico circundante. Envolve
relações entre indivíduos de uma mesma população e entre indivíduos de
diferentes populações. Essas interações entre os indivíduos, as populações e os
organismos e seu ambiente formam sistemas ecológicos, ou ecossistemas. A
ecologia também já foi definida como "o estudo das inter-relações dos
organismos e seu ambiente, e vice-versa", como "a economia da
natureza", e como "a biologia dos ecossistemas".
Histórico.
A ecologia não tem um início muito bem delineado. Encontra seus primeiros
antecedentes na história natural dos gregos, particularmente em um discípulo de
Aristóteles, Teofrasto, que foi o primeiro a descrever as relações dos
organismos entre si e com o meio. As bases posteriores para a ecologia moderna
foram lançadas nos primeiros trabalhos dos fisiologistas sobre plantas e
animais.
O
aumento do interesse pela dinâmica das populações recebeu impulso especial no
início do século XIX e depois que Thomas Malthus chamou atenção para o conflito
entre as populações em expansão e a capacidade da Terra de fornecer alimento.
Raymond Pearl (1920), A. J. Lotka (1925), e Vito Volterra (1926) desenvolveram
as bases matemáticas para o estudo das populações, o que levou a experiências
sobre a interação de predadores e presas, as relações competitivas entre
espécies e o controle populacional. O estudo da influência do comportamento
sobre as populações foi incentivado pelo reconhecimento, em 1920, da
territorialidade dos pássaros. Os conceitos de comportamento instintivo e
agressivo foram lançados por Konrad Lorenz e Nikolaas Tinbergen, enquanto V. C.
Wynne-Edwards estudava o papel do comportamento social no controle das
populações.
No
início e em meados do século XX, dois grupos de botânicos, um na Europa e outro
nos Estados Unidos, estudaram comunidades vegetais de dois diferentes pontos de
vista. Os botânicos europeus se preocuparam em estudar a composição, a
estrutura e a distribuição das comunidades vegetais, enquanto os
americanos estudaram o desenvolvimento
dessas comunidades, ou sua sucessão. As ecologias animal e vegetal se desenvolveram
separadamente até que os biólogos americanos deram ênfase à inter-relação de
comunidades vegetais e animais como um todo biótico.
Alguns
ecologistas se detiveram na dinâmica das comunidades e populações, enquanto
outros se preocuparam com as reservas de energia. Em 1920, o biólogo alemão August
Thienemann introduziu o conceito de níveis tróficos, ou de alimentação, pelos
quais a energia dos alimentos é transferida, por uma série de organismos, das
plantas verdes (produtoras) aos vários níveis de animais (consumidores). Em
1927, C. S. Elton, ecologista inglês especializado em animais, avançou nessa
abordagem com o conceito de nichos ecológicos e pirâmides de números. Dois
biólogos americanos, E. Birge e C. Juday, na década de 1930, ao medir a reserva
energética de lagos, desenvolveram a idéia da produção primária, isto é, a
proporção na qual a energia é gerada, ou fixada, pela fotossíntese.
A
ecologia moderna atingiu a maioridade em 1942 com o desenvolvimento, pelo
americano R. L. Lindeman, do conceito trófico-dinâmico de ecologia, que detalha
o fluxo da energia através do ecossistema. Esses estudos quantitativos foram
aprofundados pelos americanos Eugene e Howard Odum. Um trabalho semelhante
sobre o ciclo dos nutrientes foi realizado pelo australiano J. D. Ovington.
O
estudo do fluxo de energia e do ciclo de nutrientes foi estimulado pelo
desenvolvimento de novas técnicas -- radioisótopos, microcalorimetria,
computação e matemática aplicada -- que permitiram aos ecologistas rotular,
rastrear e medir o movimento de nutrientes e energias específicas através dos
ecossistemas. Esses métodos modernos deram início a um novo estágio no
desenvolvimento dessa ciência -- a ecologia dos sistemas, que estuda a
estrutura e o funcionamento dos ecossistemas.
Conceito
unificador. Até o fim do século XX, faltava à ecologia uma base conceitual. A
ecologia moderna, porém, passou a se concentrar no conceito de ecossistema, uma
unidade funcional composta de organismos integrados, e em todos os aspectos do
meio ambiente em qualquer área específica. Envolve tanto os componentes sem
vida (abióticos) quanto os vivos (bióticos) através dos quais ocorrem o ciclo
dos nutrientes e os fluxos de energia. Para realizá-los, os ecossistemas
precisam conter algumas inter-relações estruturadas entre solo, água e
nutrientes, de um lado, e entre produtores, consumidores e decomponentes, de
outro.
Os
ecossistemas funcionam graças à manutenção do fluxo de energia e do ciclo de
materiais, desdobrado numa série de processos e relações energéticas, chamada
cadeia alimentar, que agrupa os membros de uma comunidade natural. Existem
cadeias alimentares em todos os habitats, por menores que sejam esses conjuntos
específicos de condições físicas que cercam um grupo de espécies. As cadeias
alimentares costumam ser complexas, e várias cadeias se entrecruzam de diversas
maneiras, formando uma teia alimentar que reproduz o equilíbrio natural entre
plantas, herbívoros e carnívoros.
Os
ecossistemas tendem à maturidade, ou estabilidade, e ao atingi-la passam de um
estado menos complexo para um mais complexo. Essa mudança direcional é chamada
sucessão. Sempre que um ecossistema é utilizado, e que a exploração se mantém,
sua maturidade é adiada.
A
principal unidade funcional de um ecossistema é sua população. Ela ocupa um
certo nicho funcional, relacionado a seu papel no fluxo de energia e ciclo de
nutrientes. Tanto o meio ambiente quanto a quantidade de energia fixada em
qualquer ecossistema são limitados. Quando uma população atinge os limites
impostos pelo ecossistema, seus números precisam estabilizar-se e, caso isso
não ocorra, devem declinar em consequência de doença, fome, competição, baixa
reprodução e outras reações comportamentais e psicológicas. Mudanças e
flutuações no meio ambiente representam uma pressão seletiva sobre a população,
que deve se ajustar. O ecossistema tem aspectos históricos: o presente está
relacionado com o passado, e o futuro com o presente. Assim, o ecossistema é o
conceito que unifica a ecologia vegetal e animal, a dinâmica, o comportamento e
a evolução das populações.
Áreas
de estudo. A ecologia é uma ciência multidisciplinar, que envolve biologia
vegetal e animal, taxonomia, fisiologia, genética, comportamento, meteorologia,
pedologia, geologia, sociologia, antropologia, física, química, matemática e
eletrônica. Quase sempre se torna difícil delinear a fronteira entre a ecologia
e qualquer dessas ciências, pois todas têm influência sobre ela. A mesma
situação existe dentro da própria ecologia. Na compreensão das interações entre
o organismo e o meio ambiente ou entre organismos, é quase sempre difícil
separar comportamento de dinâmica populacional, comportamento de fisiologia,
adaptação de evolução e genética, e ecologia animal de ecologia vegetal.
A
ecologia se desenvolveu ao longo de duas vertentes: o estudo das plantas e o estudo
dos animais. A ecologia vegetal aborda as relações das plantas entre si e com
seu meio ambiente. A abordagem é altamente descritiva da composição vegetal e
florística de uma área e normalmente ignora a influência dos animais sobre as
plantas. A ecologia animal envolve o estudo da dinâmica, distribuição e
comportamento das populações, e das inter-relações de animais com seu meio
ambiente. Como os animais dependem das plantas para sua alimentação e abrigo, a
ecologia animal não pode ser totalmente compreendida sem um conhecimento
considerável de ecologia vegetal. Isso é verdade especialmente nas áreas
aplicadas da ecologia, como manejo da vida selvagem.
A
ecologia vegetal e a animal podem ser vistas como o estudo das inter-relações
de um organismo individual com seu ambiente (auto-ecologia), ou como o estudo
de comunidades de organismos (sinecologia).
A
auto-ecologia, ou estudo clássico da ecologia, é experimental e indutiva. Por
estar normalmente interessada no relacionamento de um organismo com uma ou mais
variáveis, é facilmente quantificável e útil nas pesquisas de campo e de
laboratório. Algumas de suas técnicas são tomadas de empréstimo da química, da
física e da fisiologia. A autoecologia contribuiu com pelo menos dois
importantes conceitos: a constância da interação entre um organismo e seu
ambiente, e a adaptabilidade genética de populações às condições ambientais do
local onde vivem.
A
sinecologia é filosófica e dedutiva. Largamente descritiva, não é facilmente
quantificável e contém uma terminologia muito vasta. Apenas recentemente, com o
advento da era eletrônica e atômica, a sinecologia desenvolveu os instrumentos
para estudar sistemas complexos e dar início a sua fase experimental. Os
conceitos importantes desenvolvidos pela sinecologia são aqueles ligados ao
ciclo de nutrientes, reservas energéticas, e desenvolvimento dos ecossistemas.
A sinecologia tem ligações estreitas com a pedologia, a geologia, a
meteorologia e a antropologia cultural.
A
sinecologia pode ser subdividida de acordo com os tipos de ambiente, como
terrestre ou aquático. A ecologia terrestre, que contém subdivisões para o
estudo de florestas e desertos, por exemplo, abrange aspectos dos ecossistemas
terrestres como microclimas, química dos solos, fauna dos solos, ciclos hidrológicos,
eco genética e produtividade.
Os
ecossistemas terrestres são mais influenciados por organismos e sujeitos a
flutuações ambientais muito mais amplas do que os ecossistemas aquáticos. Esses
últimos são mais afetados pelas condições da água e possuem resistência a
variáveis ambientais como temperatura. Por ser o ambiente físico tão importante
no controle dos ecossistemas aquáticos, dá-se muita atenção às características
físicas do ecossistema como as correntes e a composição química da água. Por
convenção, a ecologia aquática, denominada limnologia, limita-se à ecologia de
cursos d'água, que estuda a vida em águas correntes, e à ecologia dos lagos,
que se detém sobre a vida em águas relativamente estáveis. A vida em mar aberto
e estuários é objeto da ecologia marinha.
Outras
abordagens ecológicas se concentram em áreas especializadas. O estudo da
distribuição geográfica das plantas e animais denomina-se geografia ecológica
animal e vegetal. Crescimento populacional, mortalidade, natalidade, competição
e relação predador-presa são abordados na ecologia populacional. O estudo da
genética e a ecologia das raças locais e espécies distintas é a ecologia
genética. As reações comportamentais dos animais a seu ambiente, e as
interações sociais que afetam a dinâmica das populações são estudadas pela
ecologia comportamental. As investigações de interações entre o meio ambiente
físico e o organismo se incluem na ecoclimatologia e na ecologia fisiológica.
A
parte da ecologia que analisa e estuda a estrutura e a função dos ecossistemas
pelo uso da matemática aplicada, modelos matemáticos e análise de sistemas é a
ecologia dos sistemas. A análise de dados e resultados, feita pela ecologia dos
sistemas, incentivou o rápido desenvolvimento da ecologia aplicada, que se ocupa
da aplicação de princípios ecológicos ao manejo dos recursos naturais, produção
agrícola, e problemas de poluição ambiental.
Movimento
ecológico. A intervenção do homem no meio ambiente ao longo da história,
principalmente após a revolução industrial, foi sempre no sentido de agredir e
destruir o equilíbrio ecológico, não raro com consequências desastrosas. A ação
das queimadas, por exemplo, provoca o desequilíbrio da fauna e da flora e
modifica o clima. Várias espécies de animais foram extintas ou se encontram em
risco de extinção em decorrência das atividades do homem.
Já
no século XIX se podia detectar a existência de graves problemas ambientais,
como mostram os relatos sobre poluição e insalubridade nas fábricas e bairros
operários. Encontram-se raciocínios claros da vertente que mais tarde se
definiria como ecologia social na obra de economistas como Thomas Malthus, Karl
Marx e John Stuart Mill, e de geógrafos como Friedrich Ratzel e George P.
Marsh. Mesmo entre os socialistas, porém, predominava a crença nas
possibilidades do industrialismo e a ausência de preocupação com os limites
naturais. Também contribuiu o fato de a economia industrial não ter ainda
revelado as contradições ecológicas inerentes a seu funcionamento, evidenciadas
no século XX.
De
fato, a maioria das teorias econômicas recentes traduz essa atitude e raciocina
como se a economia estivesse acima da natureza. A economia, no entanto, pode
até mesmo ser considerada apenas um capítulo da ecologia, uma vez que se refere
somente à ação material e à demanda de uma espécie, o homem, enquanto a
ecologia examina a ação de todas as espécies, seus relacionamentos e
interdependências.
A
radicalização do impacto destrutivo do homem sobre a natureza, provocada pelo
desenvolvimento do industrialismo, inspirou, especialmente ao longo do século
XX, uma série de iniciativas. A mais antiga delas é o conservacionismo, que é a
luta pela conservação do ambiente natural ou de partes e aspectos dele, contra
as pressões destrutivas das sociedades humanas. Denúncias feitas em congressos
internacionais geraram uma campanha em favor da criação de reservas de vida
selvagem, que ajudaram a garantir a sobrevivência de muitas espécies ameaçadas.
Existem
basicamente três tipos de recursos naturais: os renováveis, como os animais e
vegetais; os não renováveis, como os minerais e fósseis; e os recursos livres,
como o ar, a água, a luz solar e outros elementos que existem em grande
abundância. O movimento ecológico reconhece os recursos naturais como a base da
sobrevivência das espécies e defende garantias de reprodução dos recursos
renováveis e de preservação das reservas de recursos não renováveis.
No
Brasil, o movimento conservacionista está razoavelmente estabelecido. Em 1934,
foi realizada no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, a I Conferência Brasileira
de Proteção à Natureza. Três anos mais tarde criou-se o primeiro parque
nacional brasileiro, na região de Itatiaia RJ.
Além
dos grupos conservacionistas, surgiu no movimento ecológico um novo tipo de
grupo, o dos chamados ecologistas. A linha divisória entre eles nem sempre está
bem demarcada, pois muitas vezes os dois tipos de grupos se confundem em alguma
luta específica comum. Os ecologistas, porém, apesar de mais recentes, têm peso
político cada vez maior. Vertente do movimento ecológico que propõe mudanças
globais nas estruturas sociais, econômicas e culturais, esse grupo nasceu da
percepção de que a atual crise ecológica é consequência direta de um modelo de
civilização insustentável. Embora seja também conservacionista, o ecologismo
caracteriza-se por defender não só a sobrevivência da espécie humana, como
também a construção de formas sociais e culturais que garantam essa
sobrevivência.
Um
marco nessa tendência foi a realização, em Estocolmo, da Conferência das Nações
Unidas sobre o Ambiente Humano, em 1972, que oficializou o surgimento da
preocupação ecológica internacional. Seguiram-se relatórios sobre esgotamento
das reservas minerais, aumento da população etc., que tiveram grande impacto na
opinião pública, nos meios acadêmicos e nas agências governamentais.
Em
1992, 178 países participaram da Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro. Embora com
resultados muito aquém das expectativas dos ecologistas, foi mais um passo para
a ampliação da consciência ecológica mundial. Aprovou documentos importantes
para a conservação da natureza, como a Convenção da Biodiversidade e a do
Clima, a Declaração de Princípios das Florestas e a Agenda 21.
A
Agenda 21 é talvez o mais polêmico desses documentos. Tenta unir ecologia e
progresso num ambicioso modelo de desenvolvimento sustentável, ou seja,
compatível com a capacidade de sustentação do crescimento econômico, sem
exaustão dos recursos naturais. Prega a união de todos os países com vistas à
melhoria global da qualidade de vida.
Associação
biológica; Biologia; Biogeografia;
Conservação da natureza; Espécies em extinção; Etologia; Fitogeografia; Parque
nacional; Zoogeografia
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