Madri, 4 set (EFE).- Um grupo de cientistas, entre eles de Brasil, Espanha, Estados Unidos e França, sequenciaram o genoma da planta do café, o que pode ajudar a melhorar seu aroma, sabor e produção, e a entender a evolução da cafeína, a "melhor amiga química do homem", segundo os autores do trabalho.
"O café é tão importante para os que madrugam todos os dias quanto para a economia global", ressaltou Philippe Lashermes, do Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento e um dos principais autores do trabalho.
Os resultados deste trabalho serão publicados na edição desta sexta-feira da revista "Science" e, entre outros, conta com participação dos órgãos brasileiros Financiadora de Estudos e Projetos (Finep Qualicafé) e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT Café), além de cientistas de instituições de Canadá, França, Itália, EUA e Espanha.
Com um consumo que supera as 2,250 bilhões de xícaras por dia no mundo todo e uma produção de mais de 8,7 milhões de toneladas em 2013, o café é uma das bebidas mais populares no mundo e que dá trabalho a cerca de 26 milhões de pessoas de 52 países, segundo dados de 2010 divulgados pela Organização Internacional do Café.
Agora, esta equipe internacional de cientistas sequenciou seu genoma, apresentando dados para melhorar a planta.
Concretamente, os pesquisadores sequenciaram o genoma da espécie Coffea canephora ou robusta, originária de África Ocidental e que se cultiva sobretudo no continente africano, Brasil e sudeste asiático. Esta variedade representa 30% da produção mundial.
O estudo permite "extrair algumas conclusões sobre por que o café é tão especial", segundo Lashermes, que em uma nota da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês) acrescentou que o sequenciamento do genoma do café (25.574 genes) pode representar um grande passo para sua melhora.
O trabalho da "Science" faz duas contribuições principais: proporciona ferramentas para a melhora genética da planta do café e dá uma visão mais ampla e precisa de como foi a evolução dos genes relacionados com a cafeína, um alcaloide que a planta usa para se defender de insetos e potenciais concorrentes, e que os humanos transformaram em seu "melhor amigo químico".
"Se dispusermos do genoma podem ser feitos cruzamentos dirigidos que permitam, por exemplo, obter variedades que melhorem o sabor do café - mais ou menos amargo -, o aroma e a resistência a pragas", explicou à Agência Efe Julio Rozas, pesquisador da Universidade de Barcelona (Espanha) e um dos participantes do projeto.
Ao comparar a planta do café com outras como a videira ou o tomateiro, os cientistas descobriram que o café mostra um maior número de genes relacionados à produção de alcaloides que contribuem para qualidades como aroma ou amargor do grão.
E também que entre aquelas famílias de genes que aparecem expandidas em número estão as relacionadas com a sínteses da cafeína.
Para chegar a estas conclusões, foi utilizado um software criado na Universidade de Barcelona (BadiRate), o qual permite conhecer quais genes se duplicam de forma recorrente em um genoma específico.
"Vimos que há algumas famílias de genes que aumentaram de forma importante no genoma do café, muitas relacionadas com a cafeína", explicou Rozas, acrescentando que, ao contrário de outras plantas, no café a aquisição de genes não foi através da duplicação do genoma completo, mas através da duplicação recorrente de genes individuais.
Lorenzo Carretero-Paulet, outro dos pesquisadores (Universidade de Buffalo, Nova York, EUA), concordou com Rozas em que um dos dados mais relevantes é que no genoma do café aparecem expandidas famílias concretas de genes relacionados com a defesa da planta e com substâncias que esta utiliza para interagir ecologicamente com o ambiente e, além disso, lhe conferem propriedades de aroma e sabor.
"Isto tem implicações diretas na melhora dos mecanismos de resistência a fungos, por exemplo, e serve para moldar a composição química do grão", assinalou o cientista em declarações à Efe.
Quanto à evolução da cafeína, o estudo reforça trabalhos anteriores que apontavam que a cafeína do café não compartilha um ancestral em comum com a do chá e a do cacau: os genes envolvidos na síntese da cafeína se originaram no café de forma independente. EFE
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