]Todo potencial de desenvolvimento embrionário de um animal está contido em um
ovo fertilizado. Quando o espermatozóide se une a um óvulo, ocorre a reunião do material hereditário
(genes) paterno e materno, com todas as instruções detalhadas para o
desenvolvimento de um novo ser, isto é, uma poupança herdada de cerca de 100 mil genes com um
imenso repertório de funções para construir as células e todo um organismo. Esses
genes são os verdadeiros segredos do talento artístico da célula: uma vez ativados,
eles produzem mensagens específicas para a síntese de proteínas
capazes de construir novas
células e de modificá-las de infinitas maneiras.
O que inicia o processo de
diferenciação das células? Eventos importantes ocorrem durante o desenvolvimento de um animal, mesmo
antes de o ovo ser fertilizado. Ou seja, substâncias nutritivas e determinantes são
transportadas para o ovo a partir de células maternas vizinhas, fornecendo alimento
para o futuro embrião e organizando o ovo para seu subseqüente desenvolvimento. Em algumas espécies,
esses produtos gênicos maternos
traçam o perfil do plano
corporal básico do embrião, distinguindo a região anterior da posterior e a dorsal
da ventral.
Conforme as divisões
celulares progridem e mais e mais células compõem o
embrião, elas começam a
conversar quimicamente entre si, especificando as informações mais complexas sobre
a forma, função e posição. Uma célula destinada a formar a mão, por exemplo, deve
enviar a mensagem química para a célula vizinha
originar um grupo de células descendentes
e ativar os genes para formar um braço. O ovo recém-fertilizado (zigoto) é totipotente: ele dá
origem a todos os tipos celulares do adulto. Em que ponto do desenvolvimento embrionário
as células começaram a ficar irreversivelmente restritas em seus potenciais
de desenvolvimento?
Existem casos de nascimentos
múltiplos em que irmãos idênticos são derivados
de um único ovo fertilizado
por um só espermatozóide. Portanto, podemos concluir que a informação
genética foi fielmente reproduzida durante pelo menos três divisões celulares
após a fertilização (duas divisões produzem quatro células e quíntuplos idênticos
já foram registrados). Muitos organismos diferenciados podem regenerar novos órgãos
e tecidos. Por exemplo, uma lagartixa pode regenerar a cauda, e um corpo
humano pode regenerar um fígado lesado. Até recentemente pensava-se que isso
só era possível em determinados tecidos. Embora a regeneração de um organismo
completo a partir de uma única célula somática (já diferenciada) não tenha sido
observada entre os animais na natureza, em laboratório isso já se tornou uma
realidade com o nascimento da ovelha Dolly, a partir de um núcleo de uma célula
mamária introduzido em um ovo anucleado. Esse experimento
mostra, de certo modo, que
qualquer núcleo do organismo tem no seu material
genético todas as informações necessárias
para o desenvolvimento completo de um organismo, e que isso ocorrerá desde que esse
material esteja rodeado dos determinantes adequados para ativar os genes do
desenvolvimento. Não se sabe, ainda, como os genes e proteínas do final
da cascata realmente constroem, por exemplo, os axônios no final das
células nervosas, ou as densas redes de fibras que compõem o cristalino nos olhos. De
fato, esses genes efetores (em oposição aos reguladores) são na maior parte
desconhecidos. Conhecê-los
será um desafio para o
próximo milênio. Fontes; [CH 157 – janeiro/fevereiro/2000 ]Lyria Mori INSTITUTO DE
BIOLOGIA, UNIVERSIDADE
DE SÃO PAULO 2. BIOLOGIA MOLECULAR, GENÉTICA E EVOLUÇÃO
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