O mal de Chagas, doença infecciosa crônica associada à pobreza na América Latina, entrou nos Estados Unidos, com ao menos meio milhão de casos, informou em Buenos Aires Eric Stobbaerts, da organização Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDI, sigla em inglês).
"Nos Estados Unidos estima-se que haja meio milhão de casos. Muitos deles são de migrantes. Mas também foram detectados no Texas 400 casos em afro-americanos e pessoas sem teto. Não se sabe ainda como foram infectados", declarou nesta quinta-feira Stobbaerts à AFP, enquanto participava da Plataforma de Investigação do mal, um congresso com centenas de médicos, funcionários e pacientes da América Latina.
O mal de Chagas é causado pelo parasita "Trypanosoma cruzi", que se aloja no organismo e ataca com frequência o coração. É transmitido através da picada do barbeiro, um inseto que se alimenta de sangue, mas também pode ser transmitida pela transfusão ou de mãe para filho.
"Estima-se que nos Estados Unidos foi transmitido por doações de sangue. Os bancos de sangue até pouco tempo não 'peneiravam' (medidas de segurança biológica)", afirmou o diretor regional da DNDI, entidade fundada pela organização Médicos Sem Fronteiras e dedicada ao combate às doenças negligenciadas.
Denominam-se "doenças negligenciadas" as que provocam pouco interesse da indústria farmacêutica para investigar e desenvolver novos produtos, devido ao baixo lucro calculado.
"Temos no congresso (na capital argentina) uma cardiologista da Baja California (noroeste do México) que atende a pacientes migrantes e diz não ter medicamentos disponíveis. Há dois remédios que permitem evitar sintomas. Nós desenvolvemos um pediátrico", disse o investigador.
Estatísticas da DNDI baseadas em relatórios da Organização Mundial da Saúde informam que há no mundo cerca de 1 bilhão de pessoas que sofrem de doenças infecciosas deste tipo, como a malária leishmaniose, doença do sono e o HIV pediátrico.
Na América Latina há entre 5,7 e 8 milhões de pessoas com o mal de Chagas. A organização que promove inovações em medicamentos detectou que somente 1% recebe tratamento médico.
A maioria dos infectados desconhece que sofre da doença e pode morrer de um infarto ou morte súbita sem saber que foi devido à ação silenciosa do parasita no organismo. O tripanossoma pode permanecer latente durante 15 a 20 anos.
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