terça-feira, 27 de agosto de 2013

Nocebo, a outra cara do efeito placebo

Os cientistas descobriram alguns mecanismos do denominado “efeito placebo”, a capacidade que tem algumas pessoas para curar um transtorno ou aliviar uma dor tomando um medicamento ou recorrendo a uma terapia, inócua e sem eficácia, porque creem nos benefícios de dito tratamento.

Uma equipe de neurologistas da Universidade de Michigan (EUA), liderado pelo investigador David J. Scott, descobriu que, quando uma pessoa crê que vai tomar um medicamento eficaz, em seu cérebro é ativada uma região relacionada com a habilidade de experimentar um benefício ou uma recompensa (o núcleo accumbens) e segrega uma substância denominada dopamina, que produz um efeito analgésico.
Contudo, esse mesmo poder do cérebro humano para induzir uma cura ou um alívio físico a partir de um pensamento positivo, tem seu lado contrário: o menos conhecido e pouco investigado “efeito Nocebo”, que são os eventos adversos produzidos pelas expectativas negativas presente na mente do paciente, de que sua terapia não funcionará ou inclusive será prejudicial.

 “A expectativa, que é o que esperamos que aconteça, influencia no desenvolvimento de nossa doença, provocando inclusive que os sintomas desapareçam ou que surjam outros novos”, segundo o neurologista alemão Magnus Heier.

Por exemplo, “os pacientes com câncer começam a sentir fortes náuseas quando entram nas salas em que serão tratados com quimioterapia porque entendem, em nível inconsciente, que sentirão essas náuseas depois”, disse Heier a “Deutsche Welle”, o serviço de radiofusão internacional da Alemanha.
Segundo o autor do livro “Nocebo, quando um pensa que está doente”, se um paciente é diagnosticado com uma leve constrição da artéria carótida, quando se sente tonto, sempre atribuirá a esse problema e “já não poderá tirar o diagnostico da cabeça porque está plantado em seu inconsciente”.

Segundo este especialista alemão, a princípio o “placebo” e o “Nocebo” se relacionam com o mesmo efeito, só que um é positivo e outro é negativo, enquanto “ambos nos afetam ali onde menos podemos controlar: o nosso inconsciente”.



O MEDO PODE NOS FAZER ADOECER

O efeito Nocebo aparece quando uma pessoa “tem medo de uma doença ou dos tratamentos ao quais terá que se submeter. Então, os efeitos secundários serão muito mais graves”, de acordo com Heier.
Segundo este neurologista, o medo supõe um stress para o organismo e pode debilitar o sistema imunológico, sendo que é mais fácil que a pessoa adquira bactérias ou vírus, e surja uma dor aonde não deveria haver. Por isso, “se alguém teme desenvolver um tumor, talvez não desenvolva o tumor, mas sim outra coisa devido ao stress”, explicou.

Uma das doenças onde é possível constatar o efeito Nocebo é na fibromialgia, que é caracterizada por uma dor crônica generalizada que o paciente tem nos membros de locomoção, e geralmente são acompanhadas por fadiga intensa, rigidez articular, alterações no sono, depressão e dores de cabeça, entre outras manifestações clínicas.

 “Os pacientes com fibromialgia apresentam muitos efeitos adversos a vários medicamentos que outros doentes, enquanto se desconhece se é por um sintoma de doença, alguma causa psicológica ou sua sensibilidade mental ( sua rede de neurônios processa os estímulos cotidianos banais como se fossem dolorosos), segundo a revista médica “Médicos y Pacientes”.

Segundo um estudo do reumatologista Cayetano Alegre, do Hospital Universitario Vall d’Hebron e do Instituto Universitario Dexeus (Barcelona, Espanha), “o número de abandonos por reações adversas nos afetados com fibromialgia tratados com placebo é o dobro do que com outras patologias”.

Na opinião do doutor Alegre, nestes estudos sempre há uma porcentagem de pacientes que apresentam benefícios com o placebo, que pode chegar em algumas ocasiões a 34% da população, “mas há um grupo de pacientes que com o placebo apresentam efeitos adversos”.

De acordo com a pesquisa, o “efeito Nocebo é a consequência daninha que o placebo tem em qualquer estudo clínico” e é muito prevalecente na fibromialgia, similar à ansiedade e à depressão e significativamente superior a dor neuropática.

 “A frequência de abandonos dos tratamentos com placebo devido aos efeitos adversos é muito superior em fibromialgia do que nas outras três patologias mencionadas”, de acordo com o reumatologista.
Para o doutor Alegre, “possivelmente a presença deste efeitos secundários poderia estar ligada ao transtorno de humor que apresentam esses pacientes, a depressão  e ansiedade. Se bem, o número de abandonos muito maior em fibromialgias faz suspeitar de uma sensibilidade especial, possivelmente ligada a “sensibilização central” que têm.




O PODER DAS ADVERTÊNCIAS


O jornal “The Guardian” destaca um estudo de 1980 feito com pacientes cardíacos que são mais propensos a sofrer os efeitos secundários de suas medicações anticoagulantes se forem advertidos sobre esses efeitos, como no caso de 62 trabalhadores de uma fábrica nos EUA que, em 1962, sofreram dor de cabeça, náuseas e erupções cutâneas, atribuídos a um suposto inseto presente nos tecidos, que nunca foi encontrados.

“Os efeitos do Nocebo são eventos adversos produzidos por expectativas negativas e representam o lado negativo do placebo”, segundo um informe dos pesquisadores Luana Colloca, do Instituto Nacional de Saúde (EUA) e Damien Finnis, da Universidade de Sydney (Austrália), publicado na revista científica “JAMA”.

Segundo  Luana e Finnis, os efeitos do Nocebo e placebo são resultados diretos do contexto psicossocial ou do meio ambiente terapêutico na mente do paciente, o cérebro e o corpo, e ambos os fenômenos podem ser produzidos por múltiplos fatores, como as sugestões verbais e experiência passada.

Estes especialistas indicam como a informação verbal negativa pode converter-se em um estímulo que não irrita as terminações nervosas em uma experiência estimulante da dor, similar a provocada por um estímulo doloroso real.

Assim mesmo, Luana e Finnis indicaram que aqueles pacientes que são informados sobre a interrupção de morfina em um pós-operatório, tem suas dores aumentadas  em comparação com aqueles que têm suprimido a droga, mas dado o fato e ainda acho que eles estão recebendo.

Eugenio Frater
E F E – REPORTAGENS

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