Se você se vale de bebidas energéticas para manter o pique, deveria reconsiderar essa escolha. De acordo com um novo estudo realizado pela Universidade de Toronto, os adolescentes que ingerem bebidas com altas doses de cafeína estão mais propensos a sofrerem lesões cerebrais traumáticas (TBI na sigla em inglês).
Os problemas cardíacos são apenas um dos riscos potenciais enfrentados pelos consumidores de bebidas energéticas. (Foto: Alamy)
Embora essas lesões cerebrais possam acontecer em várias circunstâncias, tais como quedas, brigas, ou acidentes de carro, a causa principal das lesões ocorridas entre os adolescentes é a prática de esportes. E lamentavelmente, essa taxa de lesões continua crescendo. De acordo com uma análise feita pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, entre 2001 e 2009, o número de lesões na cabeça, sofridas por jovens em torno dos 19 anos, aumentou em 57 por cento.
“É cada vez maior, o número de pais que fazem questão de que seus filhos participem ativamente de atividades extracurriculares,” diz Gabriela Ilie, principal autora do estudo, publicado na revista PLOS ONE. Talvez essa seja a razão pela qual atualmente um em cada cinco adolescentes relate que já sofreu uma lesão cerebral traumática, em alguma etapa de suas vidas. Essas lesões podem ser causadas por um golpe na cabeça, mas esse golpe pode deixar a vítima inconsciente durante pelo menos cinco minutos, ou até mesmo fazer com que ela precise ficar hospitalizada e em observação durante toda a noite, diz ela.
Isso levou alguns especialistas a afirmar que a TBI entre os adolescentes, é um problema de proporções epidêmicas. “Durante a adolescência, todos somos mais vulneráveis, nossos cérebros ainda estão em desenvolvimento, e esse processo continua a se desenvolver até depois dos 20 anos,” diz Ilie para Yahoo Health. Ilie diz também que uma batida forte na cabeça pode ter consequências muito mais sérias do que simplesmente ficar no banco de reserva do time, sem poder jogar algumas partidas. Consequências graves como baixo rendimento escolar, abuso de substâncias como drogas e álcool, suicídio, e comportamento violento, geralmente estão vinculadas a uma lesão cerebral traumática.
Para avaliar se o consumo de bebidas energéticas — tendência cada vez mais comum entre os jovens — poderia desempenhar um papel importante em tudo isso, Ilie e sua equipe analisaram as respostas da pesquisa que entrevistou mais de 10.000 jovens com idades entre 11 a 20 anos. Foram avaliados vários aspectos de seu comportamento, tais como consumo de álcool e de bebidas energéticas, como também a frequência com que sofriam alguma lesão cerebral traumática.
Eles descobriram que as probabilidades de sofrer uma lesão cerebral são bem mais elevadas entre os adolescentes que tomam bebidas energéticas. Aqueles que haviam consumido pelo menos uma dessas bebidas no ano anterior, tinham duas vezes mais probabilidade de ter sofrido uma lesão cerebral recente, em comparação com os que não beberam. Quanto aos adolescentes que haviam tomado cinco ou mais bebidas energéticas na semana anterior, suas probabilidades de ter sofrido uma lesão cerebral recente eram quase sete vezes maiores, em comparação com os demais. A mesma tendência foi observada entre os adolescentes que costumavam misturar álcool com bebidas energéticas.
É bom levar em conta que esses resultados não demonstram uma simples relação de causa e efeito. Os pesquisadores não podem afirmar com toda convicção que o simples fato de ingerir bebidas com alto teor de cafeína cause lesões cerebrais traumáticas. Porém. “isso não chegaria a ser nenhuma surpresa,” diz Ilie para Yahoo Health, já que algumas bebidas energéticas contêm altas doses de cafeína (muitas vezes equivalentes a duas doses de café expresso), juntamente com outras substâncias estimulantes como a taurina e o guaraná. Portanto, a explosão de energia é quase inevitável; “ela pode predispor você a mais acidentes, porque agora você está tão ativo, que não pode se concentrar nem prestar atenção ao que está fazendo,” diz Ilie.
Infelizmente, a impressão que temos é a de que os esportes e as bebidas energéticas andam de mãos dadas. Visto que esses “elixires” de embalagem prateada são muitas vezes comercializados como bebidas esportivas, os jovens se sentem induzidos a ingeri-los antes de participar de jogos importantes, ou de praticar esportes radicais, como o snowboarding. “As campanhas [publicitárias] geralmente sugerem que as bebidas energéticas proporcionam mais potência e resistência muscular,” diz Ilie. “Infelizmente, carecemos de evidência científica contundente para apoiar essas alegações”. Por essa razão, as bebidas energéticas são como o Gatorade para os adolescentes, apesar do apelo feito pela Associação Médica Americana em proibir a venda das bebidas energéticas para o público jovem.
Talvez o aspecto mais preocupante de todos seja a tendência dos jovens em misturar bebidas energéticas com o álcool, já que eles desejam que o shot energético de um Red Bull elimine o sono e os deixe mais alertas enquanto estão embriagados. Qual é o perigo? “Você está intoxicado, embora esteja desperto,” diz Ilie. “Então, você estará muito mais propenso a fazer coisas malucas, que jamais pensaria em fazer, mesmo que estivesse apenas embriagado.” Acrescente a isso a alta probabilidade de uma bebedeira: Um estudo de 2014, feito pela revista Journal Pediatrics descobriu que a mistura de duas bebidas era bastante frequente nas bebedeiras entre os adolescentes. Como resultado, esta mistura arriscada pode ser responsável por graves lesões cerebrais traumáticas entre os adolescentes, e elas ocorrem em ambientes que não têm nenhuma relação com os esportes.
Qual é a solução? Ilie encoraja os pais não só a reprimir o consumo de bebidas energéticas entre seus filhos adolescentes, como também a averiguar por que eles sentem a necessidade de recorrer a essas bebidas. Isso os ajudará a saber se eles realmente sentem que as bebidas podem melhorar seu desempenho nos esportes, ou se apenas são uma ajuda para ficarem despertos depois de passarem uma noite no celular enviando mensagens . Mas Ilie também incentiva os jovens a explorar as consequências para a saúde, ao consumir tanta cafeína regularmente. “Eles têm que assumir alguma responsabilidade,” diz ela. “Dê um passo para o lado e pergunte-se: ‘O que estou colocando em meu corpo e por quê?’ O fato de que muitas dessas bebidas sejam legais leva algumas pessoas a dizer: ‘Eu estou bem.’ Mas você realmente está? Esteja atento às pesquisas, elas indicam o contrário.”
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