Em várias religiões antigas, o boi e a vaca são animais
carregados de significado simbólico relacionado a ritos religiosos. Assim, no
Egito se incluía entre as divindades a vaca Hathor, encarnação da Grande Mãe
celestial. O culto hindu à deusa Sarasvati identifica o bovino com a Terra e o
Sol.
Bovino é um mamífero ruminante da ordem dos artiodáctilos e
da família dos bovídeos, dotado em geral de chifres constituídos por substância
córnea, ocos em quase toda sua extensão. A terminologia normalmente empregada
em pecuária designa por touro o macho não castrado, a partir de dois anos,
destinado à reprodução; vaca é a fêmea depois da primeira parição; os machos
castrados são chamados novilhos de corte ou, se destinados à tração, bois.
Bezerros (ou terneiros) são os recém-nascidos até a desmama. No Brasil central,
da desmama aos 24 meses a denominação comum é garrote. A fêmea, do ponto de
enxerto até a primeira cria, denomina-se novilha.
Características. Animais de grande porte, os bovinos
apresentam tronco volumoso e pesado, com o ventre muito desenvolvido. A cauda é
longa e fina e apresenta, na extremidade, um tufo de pêlos longos. Os membros,
relativamente curtos e com articulações salientes, terminam em cascos fendidos.
O segundo e o terceiro dedos se apóiam no chão, enquanto que o primeiro e o
quarto são rudimentares e se apresentam como terminações córneas na parte
posterior dos membros.
A coluna vertebral é composta de sete vértebras cervicais,
13 a 14 dorsais, seis lombares, cinco sacrais e 18 a 20 coccigianas. As
costelas são longas, achatadas e arqueadas, em número correspondente ao das
vértebras dorsais (13 a 14 pares). Não há dentes incisivos superiores nem
caninos, mas apenas seis incisivos inferiores e 24 molares.
O estômago ocupa quase três quartos da cavidade abdominal e
divide-se em quatro compartimentos: rume ou pança, retículo, folhoso e
coagulador. A capacidade do estômago varia com a idade e o porte do animal e
pode atingir mais de 200 litros. O rume, que representa oitenta por cento do
volume do estômago, é uma verdadeira câmara de fermentação, onde os alimentos
são atacados por variadíssima fauna e flora microbianas, o que produz
decomposições e sínteses de proteínas e vitaminas. Dentre esses microrganismos
há bactérias capazes de digerir a celulose, o que permite aos bovinos ingerir
grandes quantidades de alimentos fibrosos, como palha, feno e capim.
O período de gestação dura de 283 a 290 dias, conforme a
raça, e o primeiro parto dá-se aos dois ou três anos de idade. O filhote
caminha logo após o nascimento e desde o primeiro dia se alimenta de colostro,
leite de cor avermelhada muito rico em nutrientes. Deve ingerir diariamente dez
por cento de seu peso em leite até os noventa dias, quando pode começar a
alimentar-se de pasto e forragem.
História
Não se sabe ao certo quando o homem passou a utilizar
bovinos, mas na pré-história européia, há cerca de trinta mil anos, já eram
caçadas espécies selvagens. Existem desenhos primitivos desses animais nas
paredes das cavernas ou em pedras. Acredita-se que o boi tenha sido um dos
primeiros animais domesticados, devido a sua utilidade na agricultura. Em 5000
a.C. os babilônios possuíam gado vacum, assim como os egípcios em 3500 a.C.
No antigo Egito, havia pelo menos duas raças de origem
européia e uma zebuína. O boi Ápis, considerado encarnação do deus Osíris, era
negro, com pêlos duplos na extremidade da cauda, a figura de uma águia branca
no dorso, um crescente branco na testa e o desenho de um escaravelho na mucosa
bucal. Na Índia, o zebu é sagrado desde tempos imemoriais. O selo de cobre de
Mohenjo-Daro, descoberto às margens do Índus e datado de mais de 3000 a.C.,
traz a estampa de um touro com chifres semelhantes aos da raça guzerá. Os
indianos bebem leite de vaca, mas não comem carne bovina. Na China já se
importavam bovinos em 3400 a.C. e sua criação deve ter sido responsável pela
prosperidade do país na antiguidade.
A Grécia pré-clássica já possuía rebanhos bovinos. Nos
tempos de Homero, o boi era a medida pela qual se avaliavam as fortunas e
servia como moeda. Os dotes eram freqüentemente pagos em bois, costume que
perdura entre povos asiáticos e africanos. Os lacedemônios sacrificavam um boi
a Áries cada vez que obtinham uma vitória por meio da astúcia. Em Creta, terra
de origem da lenda do Minotauro, surgiram provavelmente as primeiras lutas com
touros, esporte que se disseminaria depois pela zona mediterrânea.
O carro real dos etruscos era puxado por um touro branco,
que simbolizava a força e a bravura, e por uma vaca da mesma cor, símbolo da
fartura. Na Roma antiga, era proibido matar bois destinados ao trabalho, mas
havia o costume de imolar bois brancos a Júpiter Capitolino depois de uma
vitória militar. As cabeças dos bois imolados eram suspensas às portas dos
templos. Antes do sacrifício, os romanos adornavam os chifres dos animais. As
pessoas que não podiam pagar o preço de um animal sacrificavam uma imagem
moldada em farinha.
Após a queda do Império Romano, a criação de gado declinou
muito na Europa, situação que perdurou até o século XVII. A veneração religiosa
explica a pouca vulgarização do consumo de carne bovina durante tantos séculos,
com a conseqüente decadência da bovinocultura. Depois da invenção da
refrigeração industrial, em 1868, o consumo de carne popularizou-se
rapidamente.
A criação de gado vacum expandiu-se notavelmente no
continente americano, principalmente no Brasil, Argentina, Uruguai, Estados
Unidos e México, onde encontrou situação ecológica favorável. No Brasil, o gado
bovino foi importante fator de desbravamento, de dilatação de fronteiras e de
alimentação rica em proteínas. No final do século XX, os rebanhos bovinos ainda
eram uma das principais fontes de riqueza do pampa sulino, do pantanal
mato-grossense, da ilha de Marajó, dos campos e cerrados do Centro-Oeste e da
caatinga nordestina.
Domesticação
Para as regiões em que as condições do solo -- terras ácidas
ou pobres em nutrientes -- ou a posição geográfica de difícil acesso tornam
pouco econômica a instalação de lavouras, a pecuária é a solução ideal. Permite
a ocupação de vastos espaços inexplorados com escassa mão-de-obra e sem meios
de transporte, já que os rebanhos podem deslocar-se por grandes distâncias.
Dentre as espécies de bovinos domesticadas, destacam-se
três: o boi comum ou europeu (Bos taurus), provavelmente uma subespécie do
auroque (B. primigenius), cujo habitat nos tempos pré-históricos estendia-se
pela Europa e parte da África; o zebu ou boi indiano (B. indicus), dotado de
giba, habitante natural das regiões tropicais, domesticado provavelmente na
Ásia em épocas remotas; e o búfalo (Bubalus bubalis), criado no sul da Ásia.
O boi europeu tem pêlos longos, couro espesso, chifres
curtos e pelagem pouco pigmentada. O indiano tem pêlos mais curtos e lisos,
couro mais fino e pigmentado, barbela desenvolvida e giba. É provável que as
duas espécies tenham se cruzado, em tempos remotos, dando origem a grande
número de variedades, que de acordo com suas características se adaptaram a
diferentes regiões. Os cruzamentos entre as espécies foram depois promovidos
pelo homem, a fim de combinar a resistência do boi indiano aos climas quentes
com a melhor produção leiteira do gado europeu.
Considera-se que a zootecnia moderna surgiu na Inglaterra na
segunda metade do século XVIII, quando se inventaram técnicas que permitiam a
conservação de alimentos perecíveis e
passou-se a empregar novas plantas forrageiras como alimento do gado. A
expansão das populações urbanas que se seguiu à revolução industrial trouxe
maior demanda de alimentos e incentivou os ingleses a produzirem mais carne.
Outros países começaram a desenvolver técnicas de
melhoramento do gado europeu, para corte e produção de leite, além de aprimorar
o alimento das reses e suas condições sanitárias. Assim, as raças européias
tornaram-se muito produtivas e foram o ponto de partida dos excelentes rebanhos
surgidos depois nos Estados Unidos, Canadá, Argentina, Uruguai, Brasil,
Austrália, Nova Zelândia e sul da África.
As raças européias, em climas adversos, perdem a resistência
e não revelam as qualidades de que são portadoras por herança genética. O zebu,
pelo contrário, embora por motivos religiosos não tenha sido submetido a
processos de melhoramento em seu lugar de origem, adaptou-se bem às regiões
onde o boi europeu encontrava dificuldades de aclimatação, especialmente nas
zonas tropicais e subtropicais. A seleção da espécie só começou por volta de
1920, mas deu ótimos resultados.
O Brasil foi muito beneficiado pela importação de zebus,
iniciada no final do século XIX. Esses bois encontraram no país condições de
alimentação, de defesa sanitária e aplicação de procedimentos zootécnicos
superiores às existentes em seu país de origem. Puro ou cruzado com o boi
europeu, concorreu para a multiplicação dos rebanhos por ser resistente e
fecundo. Outros países tropicais dedicaram-se a programas de melhoramento do
zebu, para carne e leite, obtendo excelentes raças provenientes da combinação
de suas qualidades com as do boi europeu.
O búfalo doméstico é originário da Ásia e descende
provavelmente do arni (Bubalus arni), ainda encontrado em estado selvagem na
Índia. Levado à Europa no primeiro milênio da era cristã, expandiu-se pelo sul
da Rússia, Balcãs, Turquia e Egito, bem como pelo oriente asiático, Myanmar,
Indochina, Java, Sumatra, Nova Guiné e Filipinas. Sua entrada no Brasil, onde é
explorado para produção de leite e carne, data de fins do século XIX ou dos
primeiros anos do século XX. Encontram-se grandes rebanhos no estado do Pará e
na ilha de Marajó, além de pequenas boiadas em São Paulo, Minas Gerais, Mato
Grosso e Paraná.
Raças
Em zootecnia, a classificação em raças é, em boa parte,
arbitrária e convencional, pois se baseia em traços superficiais como coloração
dos pêlos, conformação craniana, presença de chifres ou procedência geográfica.
Com a aplicação de técnicas destinadas ao aprimoramento das características de
importância econômica, como produção de leite e carne, os melhores espécimes
adquirem propriedades inerentes a essas funções, que deixam de ser distintivos
raciais para se tornarem características próprias de bons animais de qualquer
raça.
Segundo sua destinação econômica, as raças bovinas são em
geral classificadas em três grupos: raças leiteiras, como a holandesa, suíça,
jersey e guernsey entre as européias; sahiwal e red-sindhi, entre as indianas;
raças de corte, como hereford, charolesa e aberdeen, européias, e nelore e
santa gertrudis, de sangue asiático; por último, entre as raças de dupla
aptidão estão as européias simmental, red polled e normanda, além das indianas
gir e guzerá. Existem ainda os animais de tração, muito empregados no Brasil e
em outros países com agricultura não mecanizada. Na Índia há raças
especializadas em tração, como nagore, bachaur, malvi e kangayam, esta última a
única introduzida no Brasil.
Gado leiteiro. Os critérios de classificação do gado vacum
sofreram modificações decorrentes dos avanços tecnológicos e das exigências do
mercado. Na Comunidade Européia, por exemplo, a carne passou a ser subproduto
do leite, já que noventa por cento da carne ali produzida é extraída de raças
leiteiras. Mesmo no Reino Unido, onde se selecionaram as primeiras raças de
corte, como hereford e aberdeen-angus, a maior parte da carne provém do gado de
raça holandesa.
Os novos hábitos alimentares em todo o mundo levaram os
consumidores a preferir as carnes magras do gado leiteiro, antes consideradas
de segunda. A carne gorda das raças de corte tende a ser progressivamente
rejeitada pelo mercado, o que compromete o futuro dessas raças. Para o Brasil,
no entanto, as raças mais adequadas são ainda as rústicas de corte, como a
nelore, predominante no pantanal mato-grossense e em Marajó, onde não há
condições para a cria de raças mais produtivas.
Holandesa. Originária da Frísia, nos Países Baixos, a raça
holandesa é conhecida desde o princípio da era cristã. O padrão preferencial
exibe três manchas pretas básicas: a primeira recobre a cabeça e o pescoço, a
segunda se estende pelo dorso, lombo e costados, e a terceira, na região
posterior da garupa, abrange parte das nádegas e da cauda. Apresenta uma estrela
branca na testa, e as manchas pretas não ultrapassam a metade da cauda nem os
joelhos. Existe uma variedade malhada de vermelho e outra, menos conhecida,
denominada groninguense, preta de cabeça branca.
O gado holandês é considerado o de melhor produção leiteira
do mundo. Em condições favoráveis, as fêmeas adultas pesam 550 a 700kg e os
novilhos, aos dois anos, de 600 a 700kg. Preparados para corte, chegam a 450kg
aos 12 ou 14 meses. As novilhas podem ser fecundadas aos 15 meses. Os melhores
exemplares produzem até sessenta quilos de leite por dia.
No Brasil, o gado holandês adapta-se bem a regiões de clima
temperado dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul,
especialmente para a criação intensiva, em que as reses permanecem em estábulo.
Em zonas tropicais e subtropicais, ou frias e montanhosas, o cruzamento do gado
holandês com raças mais rústicas, como a gir, produz raças mistas, com boa
produção leiteira e muito mais resistentes.
Flamenga. Originária da antiga Flandres, a raça flamenga tem
pelagem vermelho-escura, às vezes com manchas brancas nos flancos e no úbere.
As fêmeas adultas pesam de 500 a 650kg e os machos, de 800 a 900kg. Seu leite
tem alto teor de gordura, adequado para a produção de manteiga e queijos.
Existe no Brasil em pequeno número.
Schwyz. A mais antiga raça selecionada pelo homem é a schwyz
ou suíça, proveniente das regiões montanhosas da Suíça. Apresenta pelagem
cinza-claro ou escuro. Em produção de leite, coloca-se logo após a raça
holandesa e, cruzada com gado zebu, produz excelentes novilhos de corte.
Juntamente com a jersey, é das raças européias mais resistentes ao clima
tropical, embora muito suscetível à aftosa.
Jersey. Proveniente da ilha de Jersey, no canal da Mancha, a
menor das raças leiteiras é, pelo seu porte reduzido, deficiente para a
produção de carne. Seu leite é o mais gordo entre as raças européias. De
pelagem amarela uniforme, é rústica e se reproduz precocemente. Intensamente
explorado na Nova Zelândia, grande produtora de laticínios, o gado jersey, no
Brasil, tem seus maiores núcleos em São Paulo e no Rio Grande do Sul.
Guernsey. De pelagem amarela malhada e porte superior ao da
jersey, a raça guernsey, originária da ilha de mesmo nome, na Mancha, é excelente
produtora de leite gordo. Cria-se no Reino Unido, Estados Unidos, Canadá,
Austrália, Argentina e Brasil.
Red sindhi. O gado vermelho sindhi é muito apreciado na
Índia como produtor de leite, mas no Paquistão sua seleção está mais
aprimorada. É um gado manso, rústico e de pequeno porte. Seus poucos
representantes no Brasil fazem parte do plantel paulista de Ribeirão Preto.
Gado de corte. As tradicionais raças de corte, originárias
da Inglaterra, são adaptadas a zonas temperadas. A multiplicação das raças
deveu-se principalmente ao desenvolvimento de gado de corte em regiões onde as
raças inglesas não conseguiram prosperar. Fatores como adaptação ao meio e
velocidade no ganho de peso são determinantes para a escolha da raça adequada.
Modernamente, o novilho de corte é resultado de cruzamento de duas raças, uma
vez que a hibridez favorece o aprimoramento das qualidades próprias do gado
destinado ao abate. No Brasil são criados bovinos de corte de origem inglesa,
francesa e indiana, além de algumas raças desenvolvidas no país, como a
indubrasil e a canchim.
Aberdeen-angus. Os animais da raça aberdeen-angus possuem
pelagem preta, membros muito curtos e não têm chifres. São precoces e produzem
excelente carne. Originários da Inglaterra, adaptaram-se bem nos Estados
Unidos, na Argentina e no Uruguai. Não toleram os climas tropicais e são
criados, no Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul.
Hereford. Originária do condado de Hereford, a raça inglesa
que leva esse nome expandiu-se nos Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Brasil e
Austrália. Sua pelagem vermelha é
matizada de branco, que recobre a cabeça e pode estender-se, na parte anterior,
pela barbela, peito e ventre. São brancas também as extremidades e o tufo de
pêlos da cauda. Rústicos, bons reprodutores e velozes no ganho de peso, os
animais dessa raça têm carne macia e gordura distribuída de modo uniforme. Há
uma variedade mocha, conhecida como polled hereford.
Devon. Originária dos condados ingleses de Devon e
Sommerset, a raça devon apresenta pelagem uniforme, vermelho-acaju. Sua carne é
considerada das melhores e o rendimento de suas carcaças, elevado. Rústica e
dócil, supera em certas regiões os animais das raças hereford e shorthorn, mas,
como estas, não suporta as condições dos trópicos.
Charolesa. Melhor raça de corte da França, o gado charolês
apresenta bons resultados no cruzamento com gado leiteiro e também com
zebuínos, para obtenção de novilhos de corte em regiões subtropicais. De cor
branca ou branco-creme uniforme, tem couro macio e pêlos finos e longos, que
tendem a ondular-se. Sua carne, embora não seja tão macia quanto a das raças
inglesas, é menos gordurosa que aquelas. No Brasil serviu de base para a
formação do gado canchim.
Nelore. A nelore é a raça de zebus mais freqüente no Brasil
central. De grande porte, rústicos e bons reprodutores, dotados de excepcional
longevidade, os nelore partiram dos núcleos iniciais em Uberaba MG, no Rio de Janeiro e na Bahia e
se disseminaram pelos estados do Espírito Santo, São Paulo, Mato Grosso, Goiás
e pela Amazônia. Em confronto com outras raças indianas criadas no Brasil, os
bezerros nelore exigem menos cuidados em criações extensivas e a raça apresenta
os melhores resultados em melhoramento e expansão.
De cor branca, acinzentada, prateada ou com manchas, os
machos nelore são em geral mais escuros nas espáduas, no pescoço e nos quartos
traseiros. Os chifres são achatados, implantados como estacas simétricas para
trás e para fora. As orelhas, curtas, terminam em ponta-de-lança. Como as demais
raças indianas, possui giba desenvolvida. No Brasil, encontrou boas condições
para melhorar a produção de carne, com maior velocidade de crescimento,
melhores pesos em idades precoces e melhor cobertura de músculos nos cortes
mais valorizados.
Chianina. De pelagem branca sobre pele preta, o boi da raça
chianina assemelha-se ao nelore. Com cabeça pequena em relação ao tronco, tem
chifres curtos, mucosas escuras e poderosa ossatura. Apresenta características
de animal de tração e acentuado dimorfismo sexual: as fêmeas têm tórax mais
profundo, ancas mais afastadas e membros mais curtos. É notável a resistência
dessa raça ao calor. Em São Paulo e Minas Gerais foram realizados cruzamentos
entre as raças chianina e nelore, com resultados promissores.
Santa gertrudis. Desenvolvida no Texas, Estados Unidos, a
raça santa gertrudis apresenta animais rústicos e de bom rendimento. Depois de
vários cruzamentos de animais shorthorn com mestiços de zebu, chegou-se ao
monckey, considerado o marco inicial da nova raça. O gado santa gertrudis
caracteriza-se pela cor vermelha, giba inferior à do zebu puro e umbigo longo.
É precoce, ganha peso rapidamente e adapta-se bem às condições climáticas de
São Paulo e do Rio Grande do Sul.
Mocha tabapuã. O touro tabapuã foi o ponto de partida da
linhagem desenvolvida no município paulista de mesmo nome. Tão logo se
constatou sua produção uniforme, isto é, filhos mochos e de excelente
conformação, o touro passou a ser utilizado intensamente como reprodutor.
Consta que descendia de pais mestiços de guzerá e nelore, com predomínio da
primeira raça. Os novilhos mostraram bom rendimento de carne limpa e as fêmeas
são leiteiras razoáveis.
Brahman. Obtidos por criadores do sul dos Estados Unidos que
buscavam um gado resistente às doenças, às secas e às temperaturas elevadas,
capaz de longas caminhadas em busca de água e alimento, os animais brahman
mostraram-se aptos a ingerir forragens com alto conteúdo fibroso e baixo teor
protéico. Fruto do cruzamento da várias raças indianas com predomínio da
guzerá, da qual herdou a cor cinza com manchas escuras do pêlo, a brahman
mostrou-se indicada para exploração direta e para cruzamento com raças
britânicas.
Indubrasil. Resultado do cruzamento de raças indianas, com
predomínio de guzerá e gir, a raça indubrasil
foi desenvolvida por criadores do Triângulo Mineiro que pretendiam preservar as
características do puro zebu. O indubrasil predominou, em sua região de origem,
até a década de 1930, quando começaram a ressurgir as raças nelore, guzerá e
gir. De boa precocidade, apresenta ganho de peso às vezes superior ao
apresentado pelas raças nelore e guzerá. De pelagem uniforme branca,
cinza-claro ou cinza-escuro, tem grande porte e pernas mais longas que outras
raças zebuínas. As fêmeas apresentam boa conformação, com ancas afastadas,
membros mais curtos e arqueamento das costelas.
Canchim. Formado numa fazenda de criação de São Carlos SP, o
gado canchim resultou do cruzamento de zebu com a raça charolesa. De pelagem
branco-creme, forte ossatura e poderosa massa muscular, o canchim mostrou-se
rústico, bom ganhador de peso e adaptado ao clima paulista.
Gado de dupla aptidão. Existem raças igualmente utilizadas
para a produção leiteira e para corte, que são as mais convenientes para as
condições climáticas e econômicas do Brasil. A algumas delas pertence grande
parte dos rebanhos nacionais; outras, como a caracu, mocho nacional e
friburguesa, tiveram desenvolvimento mais restrito.
Gir. Desenvolvida inicialmente para a produção de carne, a
raça gir conquistou, em porte e em peso, desempenho melhor que o obtido na
Índia, onde é considerada leiteira. Distingue-se de outras raças indianas
criadas no Brasil pela pelagem, cuja coloração varia do branco ao vermelho,
sempre com uma mancha em alguma parte do corpo, e pela implantação típica dos
chifres, que se desenvolvem em espiral. A raça apresenta características
extraordinárias para animais de corte. Os maiores plantéis brasileiros
localizam-se na região do Triângulo Mineiro e em Mococa, Casa Branca e Jacareí,
no estado de São Paulo. Nessas localidades, foi submetida a intenso trabalho de
seleção, que a transformaram numa raça de grandes possibilidades leiteiras e
também de corte.
Guzerá. Embora selecionado em alguns rebanhos nacionais para
a produção de leite, o animal guzerá apresenta características inequívocas de
bom produtor de carne: tronco profundo, costelas arqueadas, ancas afastadas,
equilíbrio entre quartos dianteiros e traseiros e dorso longo. De pelagem
uniforme cinza-claro ou cinza-escuro, com manchas quase negras, o guzerá
apresenta chifres em forma de lira alta e orelhas largas e pendentes como
folhas de fumo. Tem postura imponente e temperamento dócil.
Simmental. De origem suíça, a raça simmental produz na
Europa vacas adultas de 600 a 700kg e touros de 900 a 1.200kg; os novilhos
chegam a 500kg dos 12 aos 14 meses. De pelagem malhada, apresenta manchas que
variam do amarelo-claro ao vermelho, com cabeça branca. Nos machos, os pêlos da
cabeça e do pescoço costumam ser longos e ondulados. É selecionada intensamente
na Suíça, para carne e leite, e na Alemanha, onde sua média de produção
leiteira apresentou expressivo aumento. Os produtos do cruzamento
simmental-zebu são de ótima qualidade.
Shorthorn. Inglesa com influência do gado holandês, a raça
shorthorn apresenta três possibilidades de pelagem: vermelha uniforme, branca
ou creme e a rosilha, que é uma combinação de pêlos vermelhos e brancos. Foi a
primeira raça formada intencionalmente, por meio de estreita consangüinidade,
que determinou, em algumas linhagens, redução da fertilidade. Embora não
apresente a mesma rusticidade da hereford, serviu de base para a formação de
uma nova raça adaptada aos trópicos, a santa gertrudis. As vacas chegam aos
800kg, enquanto os machos podem ultrapassar uma tonelada.
South devon. Uma das mais antigas raças inglesas, a south
devon é boa produtora de carne e leite para a fabricação de manteiga. Apresenta
pelagem vermelha, pele amarela e chifres de tamanho médio. Os novilhos podem
atingir 800kg sem acumular gordura em excesso.
Normanda. Oriunda da Normandia, a raça normanda tem pelagem
que varia do vermelho-claro ao escuro, com manchas claras características. Já
foi criada em Minas Gerais, mas a falta de uma associação de defesa e difusão
da raça prejudicou seu desenvolvimento. Há plantéis no Rio Grande do Sul e em
Santa Catarina.
Red polled. Resultante do cruzamento das raças inglesas
norfolk e suffolk, a red polled é mocha e tem pelagem vermelha. Sendo sua carne
excelente, as fêmeas destinadas ao abate alcançam melhor cotação que as das
raças especializadas para leite.
Pitangueiras. O gado pitangueiras foi desenvolvido pela
Companhia Frigorífica Anglo do Brasil, e nele entram 3/8 de sangue guzerá e 5/8
de red polled. As reses são vermelhas, mochas e boas produtoras de leite. Os machos
atingem a idade de abate com bom peso.
Doenças do gado
Sendo a pecuária a principal fonte de riqueza do campo em
muitos países, inclusive o Brasil, ganha especial importância o combate às
doenças do gado.
Verminoses. Todos os animais estão sujeitos ao ataque de
vermes, muitos transmissíveis ao homem. Daí a dupla necessidade de combater
esses parasitas, seja em defesa do animal, seja em prol da saúde pública. Um
exame de fezes anual em animais suspeitos facilita a indicação do vermífugo
específico, já que a variedade e resistência dos parasitos é muito grande.
Higiene nos estábulos e construção de esterqueira ajudam a evitar a
contaminação.
Doenças infecciosas. São diversas as doenças contagiosas
causadas por microrganismos. No Brasil, é indispensável vacinar o gado bovino
contra aftosa, de quatro em quatro meses, com vacina trivalente; todas as
fêmeas contra brucelose, dos quatro aos dez meses; e todos os bezerros aos
cinco meses, contra o carbúnculo sintomático. Outras doenças, como a raiva e o
carbúnculo verdadeiro, devem ser prevenidas com vacinação, mas somente em zonas
de incidência comprovada.
Parasitos externos. Sérios prejuízos ao gado podem ser
causados por parasitos como o carrapato, veiculador de doenças graves como
bebesiose, piroplasmose e anaplasmose, que também suga boa quantidade de sangue
da vítima. Sarnas, bernes e moscas devem igualmente ser combatidos.
Doenças da nutrição. Avitaminoses e carências minerais são
fatores negativos na exploração de bovinos. Criadores evoluídos mantêm, em
caráter permanente, sal mineralizado e farinha de ossos em cochos distribuídos
pelos pastos, à disposição do rebanho. A falta de alguns nutrientes, como o
fósforo, pode causar baixa na fertilidade das reses. Animais confinados devem
receber trinta mil unidades internacionais de vitamina A por dia.
Intoxicações. Principalmente nas pastagens novas é comum a
incidência de plantas tóxicas, que devem ser erradicadas. Em doses superiores
às recomendadas, a uréia também pode matar os animais por intoxicação.
Fonte: ©Encyclopaedia
Britannica do Brasil Publicações Ltda.