O cometa Churyumov-Gerasimenko, onde o robô europeu Philae aterrissou em novembro do ano passado, poderia abrigar microrganismos em abundância - é o que diz a teoria apresentada nesta segunda-feira por dois astrônomos durante uma conferência científica na Grã-Bretanha.
Caso a tese seja confirmada, reforçaria a teoria segundo a qual os cometas desempenharam um papel importante na aparição da vida sobre a Terra. A comunidade científica acredita que não apenas levaram água, mas também encheram os oceanos com moléculas complexas.
Os cometas são pequenos corpos do sistema solar constituídos por um núcleo integrado por gelo, matéria orgânica e rochas, tudo cercado por pó e gás.
Desde agosto, o cometa 67P/Churymov-Gerasimenko está escoltado pela sonda europeia Rosetta a caminho do Sol, atualmente a uma velocidade de 32,9 quilômetros por segundo.
Os dados coletados pela missão Rosetta revelaram uma superfície preta, rica em materiais orgânicos complexos que abrangem o gelo. As imagens mostram grandes "mares" e lagoas que poderiam ser formadas por água congelada coberta por detritos orgânicos e grandes blocos.
Todos estes elementos são "compatíveis" com a presença de organismos vivos microscópicos, disse Max Willis, da Universidade de Cardiff e Chandra Wickramasinghe, diretor do Centro de Astrobiologia de Buckingham, durante uma reunião da Royal Astronomical Society, em Llandudno, País de Gales.
"Rosetta já mostrou que um cometa não deve ser considerado um corpo muito frio e inativo, mas neles ocorrem em fenômenos geológicos e podem vir a ser mais acolhedores para os microrganismos que o Ártico ou a Antártica", explicou Max Willis em declaração.
A detecção pelo robô Philae de moléculas orgânicas complexas em abundância na superfície do cometa ajuda a proporcionar um "teste" da presença de vida, de acordo com os pesquisadores.
- Sais anticongelamento -
"Os microrganismos se desenvolveriam sob a superfície, levando à formação de bolsões de gás em alta pressão que quebrariam o gelo liberando partículas orgânicas", disse à AFP Chandra Wickramasinghe.
De acordo com o modelo apresentado pelos dois cientistas, estes micróbios podem se alojar nas fendas de gelo e de neve. Possivelmente contendo sais de anticongelamento, o que permitiria sua adaptação ao frio e permanecer ativo em temperaturas de 40 graus abaixo de zero.
Em setembro passado, as áreas do cometa expostas à luz solar já se aproximavam dessa temperatura quando estava cerca de 500 milhões quilômetros do Sol, e começou a emitir um fluxo de gases, destacam.
Desde então, o cometa chegou muito perto do sol e em 13 de agosto atingirá seu periélio - o ponto de sua órbita mais próximo do sol -, cerca de 186 milhões de quilômetros.
À medida que o cometa se aproxima do Sol, a temperatura aumenta, as trilhas de gás e poeira se intensificam e os microrganismos devem aumentar sua atividade, os investigadores estimam.
Se tudo correr bem, Rosetta e Philae estarão na primeira fila para observar o fenômeno.
O objetivo da missão Rosetta, organizada pela Agência Espacial Europeia (ESA), é compreender melhor a evolução do sistema solar a partir do momento do nascimento, com os cometas vistos como vestígios de matéria primitiva.
Lançada em março de 2004, a sonda Rosetta viajou por dez anos acompanhada de Philae até se encontrar com o cometa 67P. Em 12 de novembro o robô pousou no cometa, em uma façanha histórica.
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