segunda-feira, 7 de abril de 2014

Transformar água do mar em querosene: grande aposta da Marinha dos EUA

Foto divulgada em 2 de abril de 2014 pela Marinha dos EUA mostra frasco com combustível feito de água do mar, no Laboratório de Pesquisa Naval, em Washington
A Marinha dos Estados Unidos acredita ter finalmente encontrado a solução para um problema que ocupa cientistas há décadas: como fazer para usar a água do mar como combustível, reduzindo assim a dependência do petróleo.
O ponto de partida é simples: os hidrocarbonetos são compostos de carbono de hidrogênio, presentes em grandes quantidades na água do mar. Ao capturar o dióxido de carbono (CO2) e o hidrogênio contidos no oceano, é possível produzir um querosene sintético utilizável em motores de barcos e aviões.
Os cientistas do Laboratório de Pesquisa Naval dos Estados Unidos (NRL) demonstraram a viabilidade deste conceito ao fazer um avião voar com combustível produzido a partir da água do mar.
"É um marco gigante para nós", disse o vice-almirante Philip Cullom, da Marinha americana, que visa a reduzir sua dependência do petróleo, com suas oscilações de preços.
É que a Marinha é grande consumidora de energia: em 2011, utilizou cerca de dois milhões de toneladas de combustível.
Após nove anos de trabalho no assunto, Heather Willauer, química do NRL, não conseguiu esconder a alegria: "Pela primeira vez fomos capazes de desenvolver uma tecnologia para obter CO2 e hidrogênio da água do mar simultaneamente, isto é um grande avanço".
Diretamente utilizável
O CO2 - cuja concentração no oceano é 140 vezes maior do que no ar - e o hidrogênio são capturados por um processo de eletrólise e, em seguida, liquefeitos e transformados em hidrocarbonetos.
O combustível resultante tem aparência e cheiro similares ao do querosene convencional, assegurou Willauer. A grande vantagem, segundo o vice-almirante Cullom, é que pode ser utilizado diretamente nos motores dos barcos e aviões atuais.
A produção deste combustível se realiza atualmente em pequenas quantidades em laboratório.
Agora que demonstraram que pode funcionar, o passo seguinte dos especialistas é produzir este combustível em quantidades industriais. Mas antes disso e em associação com algumas universidades, os especialistas querem ser capazes de capturar uma quantidade maior de CO2 e hidrogênio.
"Demonstramos a viabilidade, agora temos que melhorar a eficiência do processo", explicou Willauer.
Esta inovação é importante no plano estratégico, porque permitiria encurtar significativamente a cadeia de abastecimento, um elo fraco de qualquer força naval que a torna mais suscetível de ser atacada.
Na Marinha "não necessariamente vamos a um posto de gasolina para conseguir nosso próprio combustível, nossos postos chegam a nós na forma de um petroleiro, um navio de abastecimento", explicou o vice-almirante Cullom.
Os Estados Unidos dispõem de 15 petroleiros para abastecer seus navios militares.
Só os porta-aviões são dotados de propulsão nuclear. Todos os outros navios frequentemente têm que abandonar sua missão durante algumas horas para navegar lado a lado com os petroleiros até ficar completamente abastecidos, uma operação delicada.
Os pesquisadores, no entanto, advertem os entusiastas que serão necessários pelo menos 10 anos para que os navios americanos possam produzir seu próprio combustível a bordo.

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